A pandemia acelerou a transformação digital e as mediações em um contexto de ainda mais sobrecarga informacional. Com isso, a visualização de dados se torna ainda mais importante para orientar decisões em ambientes ambíguos.
Aceleração. Quando falamos de tecnologia e de seus impactos sobre pessoas, comunidades e negócios, esse é o conceito-chave que devemos ter em mente. As soluções tecnológicas aceleram aquilo que já se revela, anuncia ou que ainda é embrionário nessas estruturas. Por isso, desde as primeiras semanas da pandemia que vivemos (e ainda viveremos por um período), ficou muito claro para mim que esta crise, entre muitos outros efeitos, teria esse papel de acelerar muitas mudanças, tendências e necessidades que já estavam em curso ou em plano. A transformação digital e a sobrecarga de informação são duas delas.
A pandemia de COVID-19 tem sido uma crise global sem precedentes e, como tal, sua adaptação teve exigência profundas sobre nós. Hoje, mais de sete meses após a imediata mudança de toda a nossa operação global e de apoiar nossos clientes para que suas transições imediatas fossem tão tranquilas quanto possível (enfrentando os desafios de compliance, regulatórios, de comércio exterior, tributários e jurídicos da pandemia), sabemos que ter a tecnologia correta e pronta para atingir seu potencial máximo pode ser determinante. Se, antes da pandemia, a transformação digital já não era mais opcional, em meio à crise ela se tornou urgente. E a mediação tecnológica se tornou essencial: no teletrabalho, telemedicina, ensino à distância, eventos digitais, encontros sociais por plataformas online e até mesmo eventos de entretenimento acontecendo por lives.
Se as telas já representavam uma parcela significativa da nossa informação diária, a sobrecarga de informação ficou ainda maior quando nos fechamos dentro de nossas casas e as telas se tornaram nossas janelas para o mundo. Além do excesso de atividade profissional, educacional e social para suprir os efeitos do distanciamento social na produtividade, a própria OMS ainda alertava para os riscos da infodemia¸ o surto de desinformação sobre a pandemia e seus efeitos nocivos. Ou seja, mais informação e conteúdo estavam sendo produzido para suprir o distanciamento, enquanto mais ruído e desinformação se produziam para preencher as incertezas – ou mesmo por intenções duvidosas.
É verdade que para alguns de nós – e podemos nos dizer privilegiados por isso – o dia a dia se tornou muito mais tecnológico. E, com isso, muito mais e acelerado. Toda a ideia de produtividade e a forma como eu via esse conceito se transformar nos últimos anos mudaram muito também. Meus clientes não precisam mais se adaptar apenas às mudanças regulatórias, de doutrina e jurisprudência em diferentes âmbitos do local ao global. Eles precisam fazer isso trabalhando de casa, conciliando múltiplos papeis e não apenas trabalhando com telas múltiplas, mas com cada vez mais abas abertas.
Os cenários cada vez mais complexos fazem com que os profissionais precisem fazer mais com menos, mas nossa capacidade cognitiva não pode ser estressada exponencialmente. Por isso, entregar tecnologia de ponta, só faz sentido se pudermos ter as informações mais confiáveis e acessíveis, porque a velocidade e o impacto das decisões que vão ser tomadas nesse ambiente precisam ter as bases certas. Falar sobre redefinir a forma como os profissionais trabalham, só faz sentido se pudermos reimaginar o futuro juntos.
E uma dessas ideias que temos reimaginado nos últimos anos está na área do Visual Law, que a Thomson Reuters tem promovido pioneiramente no Brasil com seu apoio ao FLIC e seu conteúdo no selo editorial Revista dos Tribunais, incluindo um Vade Mecum com esse recurso. O Visual Law basicamente é uma área que se dedica a tornar o Direito compreensível visualmente, traduzindo uma linguagem a outras. Essa capacidade de tornar uma mensagem acessível em diferentes linguagens é o verdadeiro ouro do nosso momento. Enquanto muitos falam sobre os dados como o novo petróleo, é o trabalho real de visualização de dados que permite que empresas tomem boas decisões de negócios.
A visualização de dados é parte da nossa tradição centenária, antes de ser um termo tão em alta. E o nosso crescente investimento em Visual Law reforça esse histórico e esse respeito pelo tempo e atenção dos profissionais. Em contextos em que a inteligência artificial é capaz de processar volumes massivos de dados, é importante lembrar que a potência humana é sempre elevada pela simplicidade. E que tornar o regramento do Direito acessível às pessoas a partir do design é uma forma de fortalecer os fundamentos da nossa sociedade.
A entrada em vigor da LGPD é um importante exemplo disso: tanto para empresas, quanto para cidadãos, entender visualmente direitos e obrigações torna acessível a informação, garantindo compliance e mais eficiência nos negócios. Se para Graciliano Ramos, a palavra não era feita para enfeitar, mas para dizer, devemos entender que o design não é feito para enfeitar, mas para fazer funcionar. E isso deve ser uma parte da formação jurídica, enquanto advogados-designers, enquanto criadores de linguagens, facilitadores de visualização. Talvez seja essa uma das habilidades-chaves que teremos para o pós-pandemia, utilizar recursos para otimizar a capacidade de pessoas cada vez mais saturadas conseguirem visualizar o abstrato.
Fonte: Migalhas