Enquanto continuarem as perguntas sem resposta sobre quanto tempo durará a pandemia e quanta atividade econômica será perdida, não será possível determinar por completo o impacto da Covid-19 na economia global nem no comércio internacional.
Ainda que no início esperava-se que os impactos da pandemia nas cadeias de suprimento se limitassem a curto prazo, já se sabe que a queda prolongada da atividade econômica gerará problemas de abastecimento mais graves em médio e longo prazo, dentro e fora da Ásia.
Estas interrupções nas cadeias de suprimento já aconteceram em frentes fora dos campos de saúde e medicina, e estima-se que irão continuar na medida em que os efeitos da pandemia sejam sentidos em mais países.
Problemas econômicos e comerciais aumentados pelo coronavírus
Até agora, podem ser nomeados cinco efeitos econômicos derivados da incerteza, volatilidade e saída de capital e que se intensificaram com a pandemia de coronavírus:
- Queda do mercado de ações
- Desvalorização de moedas
- Contração do preço do petróleo
- Perda do valor do ouro
- Enfraquecimento da indústria manufatureira e do comércio internacional.
Este enfraquecimento no comércio internacional foi produzido principalmente por estes fatores:
- Comércio reduzido entre exportadores e importadores.
- Queda na atividade econômica, o que reduz a demanda por bens em geral.
- Problemas na cadeia de suprimentos que vão de produtores intermediários a produtores finalizados.
De acordo com Fabrizio Opperti e Mauricio Mesquita Moreira, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, estas são algumas iniciativas econômicas para enfrentar os problemas comerciais que o coronavírus deixou:
- Continuar apoiando o livre comércio, porque consideram que seria um retrocesso que os governos culpassem a globalização pela crise atual.
- Aumentar a coordenação e a integração de países para continuar com investimento estrangeiro.
- Reduzir as restrições às exportações de equipamentos e insumos médicos e medicamentos (algo que ocorreu principalmente na Europa e na Ásia) já que, embora isto aumente a oferta local em curto prazo, cria incerteza em médio e longo prazo.
- Eliminar barreiras tarifárias e não tarifárias de equipamentos, suprimentos e desinfetantes, o que ajudaria a reduzir os custos destes produtos fundamentais.
- Promover acordos comerciais regionais e multilaterais para facilitar a coordenação das medidas de prevenção e mitigação de pandemias.
- Simplificar os procedimentos para o envio de mercadorias críticas.
- Desencorajar a alta proteção do setor agrícola para evitar um choque nas cadeias de suprimento de alimentos nacionais.
- Trabalhar com agências de exportação para identificar oportunidades e criar vínculos comerciais.
Confira a situação de alguns países em meio ao cenário atual:
Na China:
Não foram concedidas isenções tarifárias para as importações de suprimentos médicos, mas sim foram concedidas exclusões temporárias de tarifas sobre suprimentos doados ou adquiridos por agências governamentais.
Nos Estados Unidos:
O Escritório de Alfândegas e Proteção de Fronteiras (CBP) anunciou que aprovará, se necessário, dias adicionais para pagamento de taxas, impostos e tarifas.
Como as solicitações de resoluções vinculantes e as solicitações que incluem amostra física poderiam atrasar, a agência propõe o uso do eRuling (apresentação de provas online).
A Comissão de Comércio Internacional permite apresentar solicitações mediante o Sistema Eletrônico de Informação de Documentos (EDIS).
Na União Europeia:
Está sendo proibida a exportação de equipamento de proteção médica fora da União Europeia, a menos que o exportador obtenha uma licença.
Situação de acordos internacionais:
Estados Unidos e Reino Unido: iniciarão negociações comerciais em um futuro próximo, no entanto, seguem em contato para estabelecer quando poderiam continuar.
Estados Unidos e China: as negociações do Acordo Comercial da Fase Um não puderam progredir e não está claro se isto se deve à pandemia ou à resistência em tratar com estas questões.
Estados Unidos e União Europeia (UE): não há evidência de conversas entre estas regiões sobre qualquer acordo bilateral e não haverá até que o painel de arbitragem da Organização Mundial do Comércio emita sua decisão sobre a quantidade de tarifas que a UE pode aplicar às importações norte-americanas.
Reino Unido e União Europeia: a segunda rodada de negociações do Brexit, prevista para março de 2020, foi cancelada. Não há uma data de retomada.
O caso do México e da América Latina
A Covid-19 afetou a maioria das indústrias do país, especialmente a automotiva, eletrônica, aeronáutica, de eletrodomésticos e de aço, pois exigem a importação de bens intermediários para transformá-los ou montá-los e exportar produtos terminados.
Embora tenha sido divulgada a notícia de que os portos de Manzanillo e do Pacífico estavam fechando, a realidade é que, neste momento, nenhuma alfândega marítima mexicana está fechando seus portos para as importações do continente asiático. O que sim é um fato é que as operações logísticas se complicaram e apresentam atrasos.
A recomendação é não depender de uma única rota para importar as mercadorias já que as remessas de contêineres por navio são as mais afetadas.
Por outro lado, o México proibiu as viagens internacionais não essenciais (comerciais) para os Estados Unidos e vice-versa. Embora esta restrição não seja destinada a afetar o comércio de bens, acredita-se que terá um efeito de amortecimento direto nas viagens e exportações de serviços profissionais, bem como um efeito secundário no envio de produtos, porque os aviões de passageiros transportam rotineiramente grandes quantidades de carga.
A pandemia tem o potencial de causar fortes danos ao comércio internacional, razão pela que é necessário que os governos tomem medidas adequadas para reduzir o impacto em suas economias e em suas sociedades.
Diferentes instituições recomendaram que as companhias tomem o controle de seu transporte através de operadores logísticos com o objetivo de evitar deixar essa responsabilidade para os fornecedores e poder determinar melhores rotas.
Fonte: Solistica